Argamassa, Street Fighter e a pena da galhofa
Um ensaio protocolar de fim de ano sobre rejuntes em perigo, joguinhos de luta e a difícil tarefa de escrever sobre essas duas coisas.
Atenção, chegaram os números! Os sinais são claros: as retrospectivas começam a aparecer na internet, na televisão e nas imagens mentais quando deitamos a cabeça no travesseiro. Não há escapatória. O ano está acabando. Porém, finalmente eu posso ter o controle total e descobrir o que aconteceu comigo nos últimos doze meses, graças a esta lista especial que eu renderizei com o uso da tecnologia:
Litros de água ingeridos: cerca de 680;
Filmes assistidos: segundo o Letterboxd, esse ano foram 74 os filmes assistidos, incluindo uma maratona da trilogia Corra Que a Polícia Vem Aí;
Quilos de erva-mate (moída grossa) consumidos: 7;
Idas à dentista: 2;
Elogios recebidos da dentista: 1;
Quantidade de vezes que falei a expressão “CANALHAS!” em voz alta: 543 vezes;
Música mais ouvida: segundo os CANALHAS do Spotify, eu dei play na Interior People mais de 80 vezes esse ano. Seguimos no aguardo por esclarecimentos;
Quantidade de vezes que eu lembrei do apresentador Augusto Liberato, o “Gugu”: 19 vezes (contando esta);
Quantidade de vezes que minha gata me acordou de manhã: 350;
Dias chuvosos em Curitiba: número ainda não divulgado pelo SIMEPAR, mas, pela minha percepção, devem ter sido no mínimo uns 190;
Quantidade de horas trabalhadas em 2023: todas;
Mas calma, essa edição da newsletter não é sobre listas de coisas. Ela é sobre
Três decisões que tomei em 2023 e como fui fazendo para não desistir delas apesar das evidências do fracasso iminente
Passamos por mais um ano bizarro e turbulento. Soterrados por notícias péssimas e solavancos políticos, nos resta apenas comemorar as pequenas coisas e encontrar o auspicioso entre as frestas das exaustivas horas das jornadas de trabalho. Por isso, venho agora, como quem não quer nada, compartilhar, nesta última edição das Cartas do Bolívar de 2023, algumas coisas que aconteceram e que não passaram em branco.
1. Rejuntar um box de banheiro
É fácil identificar qual dos cômodos da sua casa é o banheiro: basta abrir a porta e conferir a arquitetura extremamente objetiva populando seu interior. Uma pia, um vaso sanitário, um espelho estrategicamente posicionado e, com alguma sorte, um chuveiro. Sobre esse último item, é importante observar se ele se encontra isolado por um “box”. Um box nada mais é do que um conjunto de materiais reunidos para proporcionar proteção quanto a possibilidade do contato com a água.
Passei mais ou menos dois anos observando a lenta degradação dos rejuntes do box do nosso banheiro aqui neste apartamento alugado. Essa proteção anti-água do box funciona de uma maneira muito simples: alguns azulejos são assentados na parede, e entre eles, uma fina massa de cimento e minerais garante a impermeabilidade do conjunto. Acontece que o tempo, incansável em seu objetivo de se mostrar imbatível, vai aos poucos destruindo e apodrecendo essa massa especial. As mais inteligentes mentes do planeta parecem ainda não ter descoberto uma forma de frear esse processo, mas há um consenso pairando sobre a cabeça de todas as pessoas do mundo que frequentam banheiros: o rejunte precisa de manutenção.
Não há um método certeiro para adotar nessas horas. Um rejunte caindo aos pedaços é o tipo de situação que pressupõe diversas formas de solução. Entretanto, em meados de março, eu estava escrevendo a primeira parte da minha tese de doutorado, com um exame de qualificação marcado para o dia 3 de agosto. Certas etapas da pesquisa acadêmica demandam foco: não há muito o que fazer além de sentar e escrever. E, por isso, em um ímpeto de procrastinação que me fez buscar qualquer coisa para fazer além de sentar e escrever, eu decidi que eu mesmo iria aprender a rejuntar um banheiro.
Se você for até o YouTube e procurar “como fazer um rejunte”, encontrará não apenas dezenas de vídeo-tutoriais mostrando a maneira correta de segurar uma espátula ou de preparar uma argamassa homogênea: há também material de sobra das subculturas formadas em torno do rejunte. Há também vídeos estranhamente sugestivos de pessoas com pouca roupa fazendo pequenas reformas em casa. Navegando entre os nichos peculiares da internet, decidi organizar uma meta-ferramenta de aprendizado na qual, por meio da coleta de materiais similares, fui pontuando as etapas em comum entre os tutoriais. O primeiro resultado foi uma lista de compras. Além da massa especial para rejunte (chama-se epóxi), eu também precisava de uma espátula de aplicação e de uma ferramenta bizarra que com certeza foi invenção de alguém: um removedor de rejunte. Uma espécie de estilete, em cuja lâmina se encontram encrustados materiais de propriedades lixantes.
Considero a compra dessa ferramenta a primeira humilhação que sofri nesse processo. Não posso dizer que o cabo altamente ergonômico justifica a existência de um utensílio que serve APENAS para raspar rejunte. Não posso reaproveitá-lo para, sei lá, limpar lajotas ou desencardir paredes. Não pretendo raspar mais rejunte além desse box de banheiro também. Não é um investimento para a manutenção do lar, é uma ferramenta que vou usar uma vez e pronto.
Mas o pior ainda estava por vir: a tarefa de raspar rejunte velho é muito mais difícil do que qualquer vídeo possa sugerir. Nem a minha mais recente aquisição tornou menos sofrível o ato de tirar os compósitos da antiga argamassa. Mesmo judiada pelo tempo, ela ainda se agarrava firmemente à parede, e eu não tive escolha a não ser recalcular completamente o cronograma do projeto. O que era para ser um dia e meio de raspagem, logo estendeu-se para uma semana inteira. Eu acordava pela manhã, tomava um café, raspava um rejuntinho, ia para o escritório, escrevia um pouco, voltava para o banheiro, raspava mais outro tanto. Pausa para o almoço. Depois do cafezinho pós-almoço, pegava novamente a maldita ferramenta e raspava mais alguns centímetros de rejunte. Cansado, largava tudo, amaldiçoava o banheiro inteiro, sentava no sofá e pensava na minha tese. Pensava que os maridos-de-aluguel devem cobrar caro. Tomado pela fúria, retornava ao banheiro e raspava mais uma linha reta de rejunte velho. No dia seguinte, resolvia ir de manhã no mercado e tentava demorar um pouco mais que o normal por lá. Porque eu sabia que, chegando em casa, quem me aguardava era ele: o rejunte.
Esse banheiro tinha um detalhe: os rejuntes que eu estava reformando conectavam a parede do box à banheira. Sim, tinha uma banheira no meio do caminho; no meio do caminho, tinha uma banheira. Tive que comprar também um pincel para ir limpando a poeira do rejunte que se depositava nas quinas da estrutura. Não considero, porém, que ficar limpando poeira com pincel tenha sido outra humilhação. Essa era a parte legal, pois ia revelando, aos poucos, como um achado arqueológico, que o plano estava funcionando. Desnuda, a parede agora estava pronta para receber a nova argamassa.
O porcelanato ultrafino para rejuntes e revestimentos Quartzolit tem algumas informações importantes na embalagem que eu, agora, acredito que sejam de utilidade pública. Não estou falando das proporções (mililitros de água versus pó), o que me deixou chocado foram os alertas: evitar o contato com os olhos, a boca e a pele. Não manusear o material sem luvas, sob risco de contaminação. Em caso de irritação, lavar o local com água e, se persistirem os sintomas, procurar um médico. Ir ao médico não estava nos planos. Nenhum tutorial de rejunte mostrva a pessoa indo pra UPA tomar soro. Tratei de resgatar uma máscara PFF2 dos tempos de pandemia, enfiei minhas mãos nas luvas de borracha que uso para fazer faxina e coloquei na cara os óculos especiais que uso pra andar de bicicleta.
Outra informação bacana da embalagem tratou de praticamente gameficar a tarefa: após o preparo, a mistura fica mais ou menos uma hora em estado pastoso. É muito importante que o usuário resista à tentação e NÃO adicione mais água para hackear o rejunte e aumentar o timeframe de aplicação. Suando frio, terminei de preparar a misturinha em um pote velho de sorvete e, parecendo o Kabal do Mortal Kombat, comecei a raspar com a espátula (também especial e própria para aplicação de rejunte).
Controlar uma massa de rejunte fresca não é tão fácil também, mas não se compara ao esforço de fazer a remoção do rejunte antigo. Foram minutos tensos. A aplicação ia sendo feita enquanto eu permanecia seguro quanto a minha integridade física. A pastosidade da massa parecia ir se acumulando nas frestas em câmera lenta, proporcionando um estranho prazer ao ato de passar com a espátula pela parede e ouvir as partículas de cimento se roçando e penetrando entre os azulejos. Tentei me concentrar e não pensar em sexo. Não demorou muito para praticamente todas as frestas estarem novamente rejuntadas. Ainda faltavam alguns toques finais e acabamento. Dentre os requisitos do meu meta-tutorial estava também a forte recomendação de manter por perto uma esponja umedecida: ela serve para remover respingos e rastros de rejunte que acabam sujando os azulejos mais infelizes.
E foi aí que percebi a segunda humilhação à qual estava sendo submetido no processo: algumas estranhas sujeiras estavam grudadas no rejunte. Tirei os oclinhos de ciclista para olhar mais de perto. Preciso apresentar a vocês um personagem que também marcou presença na saga do rejunte, ainda que indiretamente. Essa é a gata Toninha, uma frajolinha de três anos e meio e seis quilos:
Aaah não, espera, essa não é a Toninha. Eu me confundi. Esse é o Scorpitron, do filme Power Rangers, O Filme. A Toninha é essa:
Adotar um gato significa se acostumar com o fato de que vai ter pelo de gato fazendo parte da sua vida até nos momentos mais íntimos. Vai ter pelo de gato aparecendo nas suas roupas, no seu sofá, no seu travesseiro e, como era de se esperar, no seu rejunte. Imediatamente, interrompi o processo e passei a inspecionar o rejunte aplicado, removendo cuidadosamente os pelos de gato que haviam se infiltrado na massa. O relógio, entretanto, continuava correndo. A janela de uma hora de aplicação passada dos seus primeiros 30 minutos, e eu não poderia me dar ao luxo de perder muito tempo. Os fabricantes de rejunte nos alertam para tudo, menos para a presença de gatos. Canalhas. Por sorte, a incidência capilar felina foi baixa e apenas três ou quatro áreas infringidas tiveram que ser refeitas.
A última meta-recomendação dos tutoriais é deixar o rejunte secar por mais ou menos 48 horas após a aplicação. Mas, por segurança, deixei o box do banheiro interditado por 4 dias. Dois meses depois dessa pequeníssima aventura, eu estava fechando as últimas revisões dos 4 capítulos de tese que entregaria para a banca de qualificação. Antes de apagar a luz do banheiro, de noite, eu espicho o pescoço e dou uma olhada no rejunte. Está lá, aguentando firme. Em alguns pontos cegos, imagino, talvez a água já esteja infiltrando de novo.
2. Jogar Street Fighter
Eu sou contra comprar jogos no pré-lançamento ou até mesmo no lançamento, porque é um ato parecido com o de decidir passar as férias no litoral paranaense: as chances de gastar muito dinheiro e se decepcionar com o tempo nublado são grandes. Mas o trailer, as imagens e o hype em torno do Street Fighter 6 estavam vaporosos. Decidi me dar o joguinho de presente, como recompensa pelas conquistas do ano até agosto (um livro lançado, um doutorado qualificado e, claro, um rejunte novinho).
Gosto muito do debate “jogos são arte?”. Lançar a ideia do artefato “jogo digital” como peça artística pode se desdobrar para discussões quentes. Mas o desdobramento que mais chama minha atenção, nesse âmbito, é: jogar um jogo é arte? O jogo demanda uma performance. Toda arte tem um nível de interação: você precisa varrer um quadro com seus olhos ou dedicar tempo e energia cognitiva para passar por um filme. Mas o jogo explora a interação de um jeito mais exigente. O jogador precisa aprender os controles, habituar-se ao gameplay e realizar procedimentos fisicamente (apertar botões, se contorcer de raiva) para avançar pela narrativa. O jogo, enquanto obra, só se revela totalmente ao jogador que performa no nível exigido. Ou, claro, para quem assiste a tais performances e vai pegando a historinha de carona.
Por isso, respondendo à minha pergunta, eu acredito que sim, observar speedrunners encontrando falhas e bugs gera uma fruição estética digna das mais finas artes. Assistir a um jogo bem jogadinho, em uma interação que revele a dedicação do jogador em seu estado mais puro de fluxo performático, é uma atividade que atrai olhares de multidões de espectadores.
Essa atração se dá porque todo jogo deixa transparentes as ferramentas para a própria aniquilação. Isto é, um jogo sempre apresenta ao jogador as formas pelas quais ele se deixa vencer. Em Street Fighter 6, é tudo sobre os frames. Você controla um personagem que tem como objetivo ir surrando o boneco adversário até zerar os seus hitpoints, isto é, a famosa barrinha de “vida” do jogador. Para fazer isso, os controles movimentam a hitbox do personagem — uma representação matemática da área ocupada pelo seu corpo na tela. Street Fighter usa um mapeamento dos controles que designa cada botão para um tipo de ataque. São seis: três para os socos (fraco, médio e forte) e três para os chutes (também divididos em fraco, médio e forte). A diferença entre cada tipo de ataque, obviamente, é o quanto ele causa dano aos hitpoints dos inimigos. Entretanto, cada modalidade também vai ter um custo em frames diferentes: um soco forte causa muito mais dano, mas também ocupa mais frames que um soco fraco. Em outras palavras, ele é mais lento: demanda um comprometimento maior para ser usado em combate. Se você erra um soco forte, vai perceber que ele gasta muito mais frames de recuperação que um soquinho fraco. E se o oponente usa essa abertura para dar-lhe um belo dum cacete, você descobre que Street Fighter tem uma regra fundamental: acertar golpes durante os frames de recuperação causa mais dano. É o que os comentaristas querem dizer quando anunciam que um jogador “puniu” outro. A punição é um castigo para quem não sabe usar seus frames com sabedoria.
Existem estratégias que você pode aprender para explorar os movimentos do seu personagem e deixá-lo imbatível. Por exemplo, o drive rush é um movimento que custa 1 carga energética. Cada jogador começa com 6 cargas energéticas (além da barrinha de vida) e pode escolher como decide gastá-las em cada round. Ficar defendendo os golpes dos adversários também custa cargas energéticas, então, se você gastar tudo fazendo drive-rushes, pode acabar “cansando” seu personagem e deixando-o mais vulnerável. Um personagem cansado não consegue bloquear totalmente todos os golpes e usa mais frames para fazer os movimentos. Você vai ficando melhor em Street Fighter 6 conforme vai entendendo o jogo não como uma brincadeira de lutinha, mas como um software de administração de frames.
E, como era de se esperar, eu não tardei para descobrir que administrar frames não é meu forte. Um jogo tem degraus de habituação para você ir subindo. Você começa aprendendo os controles básicos. Se conseguir passar por isso, sobe para o próximo degrau e começa a explorar personagens que tem movimentos diferentes. Você descobre que alguns personagens são controladores: suas técncicas e movimentos visam manter o personagem inimigo afastado, em uma área “controlada” da tela. Também tem os personagens tricksters. Seus golpes rápidos servem para emendar combos e fazer juggling: jogar o inimigo pra cima e ir mantendo ele lá entre um pontapé e outro. E tem os grapplers. Um grappler é um personagem que usa command grabs: golpes que “agarram” o adversário e causam grandes quantidades de dano de uma vez. É só comparar com a vida real: uma competição de judô é praticamente um duelo entre grapplers. Dois gatos brigando na rua, também.
Eu comecei a jogar mais com o Zangief, o famoso grappler de Street Fighter que vem da União Soviética, fala gritando e usa golpes de wrestling para acabar com a luta rapidamente. Alguns meses treinando e agora eu sempre escolho o Zangief. Eu aprendi a usar o pilão giratório como ataque anti-aéreo. Eu aprendi a usar o 360 mais soco forte para dar um check no drive rush adversário. Desculpem, estou sendo nerdola e usando termos que só a FGC (Fighting Games Community) vai entender. Não adianta nem eu mostrar esse print screen, o qual considero o ponto alto da minha carreira, porque sei que poucos entenderão toda a beleza e toda a arte envolvida:
Entretanto, como mencionei antes, por mais que eu goste de jogar com o Zangief, não é como se eu tivesse aprendido a controlar o uso dos seus frames plenamente. Em jogos competitivos, os desenvolvedores usam alguns recursos para acalmar os ânimos. Uma forma de fazer com que pessoas do mesmo nível técnico se enfrentem é classificando-as de acordo com o número de vezes que vão vencendo lutas. Nesse escalão meritocrático, você pode ir de Rookie até Legend, passando por algumas classificações intermediárias de acordo com pontos de experiência obtidos a cada vitória. Também pode acontecer de você cair de um nível para outro mais baixo, se começar a perder muitas lutas.
Minha classificação é “Platina”. Fica entre o Ouro e o Diamante, o que pode ser traduzido como: alguém que entende do jogo o suficiente para memorizar suas mecânicas e explorar todo o potencial do personagem, mas que não tem tanta destreza para jogar bem. A ideia de jogar bem é muito relativa. Jogar contra outras pessoas é diferente de jogar contra uma máquina. Pessoas são estranhas. Imprevisíveis. Os limites da máquina são bem definidos, mas as pessoas estão cada vez inventando estratégias novas, usando movimentos insanos. Em resumo, jogar contra as pessoas pode ser muito injusto se elas forem muito melhores que você. É como na vida real também. É por isso que o boxe tem categorias: mosca, pena, super-leve, leve, médio, pesado, ameaça para a humanidade etc. Mas, diferente das categorias do boxe, que são definidas pelo peso do lutador, as categorias do video-game são definidas pela habilidade.
E descobrir assim, desse jeito quantitativo, sobre os limites da sua própria habilidade, é um pouco humilhante. É como ganhar uma nota na escola, mas video-games não são uma escola. A principal diferença é que eles supostamente são divertidos. Eu consigo contabilizar a quantidade de humilhações que sofro tentando aplicar um rejunte, porque eu só fiz isso uma vez e sei onde errei e qual foi a minha culpa. Mas jogar Street Fighter é se submeter a humilhações por livre e espontânea vontade. Se isso é uma performance artística, então ela está muito parecida com aquele trecho do filme La Grande Bellezza (2013), no qual o protagonista, Jep Gambardella, assiste a uma preformance de “arte conceitual” na qual uma mulher nua, com apenas um véu lhe cobrindo a cabeça, dispara em direção a uma ruína dos tempos do Império Romano, dando com a própria testa nas pedras.
Mas, por algum motivo, eu sei que, da próxima vez que eu iniciar o jogo, vai ser diferente. Eu saberei quais botões apertar no tempo certo e vou dar uma surra naqueles CANALHAS e vou subir de nível. Esperem só.
3. Escrever mais
Eu não sei se eu sei escrever. É isso que eu penso logo depois que termino qualquer texto. Eu chego a essa conclusão porque o que eu leio está sempre muito diferente daquilo que eu imaginei que escreveria. E o motivo só pode ser porque eu ainda não aprendi a fazer isso direito. Não parei, ainda, pra fazer um meta-tutorial da escrita. Porém, tal e qual o Street Fighter e as cabeçadas nas pedras, eu abro o Substack e insisto. Nossas vocações não se revelam pela sua beleza, mas pelo quanto elas não nos cansam.
Meus blogs foram projetos de época. Antes de descobrir a Internet, eu gostava de abrir o Word e ir inventando umas bobagens. Descobri que poderia postar essas bobagens no Blogspot, e depois no Twitter, no Tumblr, e depois no Medium, e agora estamos aqui. A diferença é que, bom, vocês vão ter que confiar em mim agora, mas sim, estou tentando manter algo mais periódico, mais ajeitado. Esse espaço vem servindo para armazenar alguns pensamentos de divulgação científica; vem sendo usado como baú de crônicas estranhas; e, se ninguém me prender, vai continuar sendo usado como megafone para divulgar ideias esdrúxulas.
O Substack revela uma rede super amigável de pessoas que escrevem também. Eu já recomendei dar uma olhada no
, mas aventurem-se também pelos ótimos textos da e do . A posta parágrafos incríveis, é sempre um prazer acompanhar sua interpretação das coisas. A é mestre em recomendar & escrever textos legais. As e do são ótimas leituras sempre. E eu preciso recomendar esse excelente e bem-humorado manifesto da Aline Valek, que resume um drama daqueles que optam pela vida escrita. Em inglês, nunca perco uma edição da Experimental History. Não quero ficar pra sempre aqui listando leituras, e peço desculpas pelos que não apareceram linkados desta vez (mas não se enganem: estamos de olho).O que quero dizer é que é bom poder escrever. Me sinto bem deixando essas palavras aqui, e me sinto bem quando elas encontram olhares curiosos. Eu tento responder sempre que deixam comentários, e quero continuar dando espaço para esses comentários aparecerem. Após esse ano de Cartas do Bolívar, eu encerro nossa última edição de 2023 agradecendo às vossas valiosas assinaturas. Feliz ano novo. Contem comigo. E obrigado.
Só agora vi meu nome sendo recomendado neste texto delicioso. Obrigado, Bolívar.
Ler teu texto desbloqueou uma memória antiga minha de uma colega de trabalho do meu pai falando que toda grande produção acadêmica dela era acompanhada de esfregar o forno da casa dela. Eu, criança, não entendi a relação, mas todos temos um pequeno projeto paralelo movido pela necessidade quase física de procrastinar um trabalho acadêmico. Parabéns aí pelo livro, pela tese, pela parede rejuntada e pelo street fighter!